Azul entra com pedido de recuperação judicial nos EUA e garante financiamento bilionário: entenda os impactos

Companhia aérea brasileira inicia processo de reestruturação financeira via Chapter 11 com financiamento de US$1,6 bilhão e captação de capital planejada. Expectativa é concluir o processo até o primeiro trimestre de 2026.


Azul entra com pedido de recuperação judicial nos EUA e garante financiamento bilionário: entenda os impactos

A Azul Linhas Aéreas anunciou nesta terça-feira (27) um passo decisivo na sua reestruturação financeira ao entrar com um pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, por meio do Capítulo 11 (Chapter 11) da lei norte-americana de falências. A medida, segundo comunicado oficial, visa reestruturar dívidas, melhorar a liquidez e garantir sustentabilidade no longo prazo.

Ao contrário do que muitos podem imaginar, a recuperação judicial nos EUA não representa falência. Trata-se de um mecanismo jurídico utilizado por grandes empresas globais, como Delta, LATAM e Avianca, para reorganizar passivos sob proteção judicial, mantendo as operações em funcionamento.


Financiamento DIP de US$1,6 bilhão: o fôlego necessário

Como parte do processo, a Azul já garantiu um financiamento DIP (debtor-in-possession) no valor de US$1,6 bilhão. Esse tipo de financiamento é comum em processos de Chapter 11 e permite que a empresa continue operando normalmente durante a reestruturação.

Do valor total:

  • US$670 milhões serão usados para reforçar a liquidez de curto prazo e refinanciar dívidas existentes;
  • O restante será utilizado no andamento das negociações com credores e fornecedores.

Além disso, está prevista uma captação de capital via equity de US$650 milhões, liderada pelos detentores de bonds. A operação pode atingir US$950 milhões, caso as companhias United Airlines e American Airlines participem do processo de saída. A empresa espera concluir a reorganização até o 1º trimestre de 2026 (1T26).


Histórico das renegociações da Azul

A entrada no Chapter 11 é o desdobramento mais recente de uma série de medidas adotadas pela Azul nos últimos dois anos para equilibrar sua estrutura financeira. Em 2023, a companhia já havia implementado um plano de renegociação de dívidas que incluiu:

  1. Liquidação de instrumentos de equity dos arrendadores, com emissão de 96 milhões de novas ações a R$32,09, gerando um haircut de R$1,8 bilhão;
  2. Emissão de nova dívida de US$525 milhões;
  3. Conversão de 88% dos US$785 milhões em notas 2029/2030 em ações;
  4. Oferta de ações que levantou R$48 milhões no mercado.

Essas etapas, somadas ao novo movimento de hoje, representam um dos processos de reestruturação mais agressivos já realizados por uma companhia aérea brasileira.


Expectativa de processo mais rápido que o da GOL

O anúncio da Azul ocorre em meio ao ainda em andamento processo de Chapter 11 da concorrente GOL, iniciado em janeiro de 2024. A GOL vem enfrentando um processo mais longo, estimado em cerca de 18 meses.

A Azul, por outro lado, espera concluir sua reestruturação até o 1T26, ou seja, em cerca de 9 meses. A diferença está no estágio avançado das negociações com credores e na estrutura pré-definida do processo, que já conta com financiamento assegurado e planos de capitalização prontos.


Impactos esperados: redução de dívidas e melhora no caixa

O plano divulgado pela Azul prevê uma série de melhorias financeiras expressivas. Os principais pontos incluem:

📌 Alívio no endividamento
  • Redução de aproximadamente US$2 bilhões em dívida, com conversão de notas sêniores (1L e 2L) em ações;
  • Nova estrutura de capital mais enxuta e sustentável.
📌 Reforço de liquidez
  • US$670 milhões do financiamento DIP destinados ao reforço imediato de caixa e refinanciamento.
📌 Redução de custos operacionais
  • Renegociações com arrendadores e fabricantes de aeronaves (OEMs) para diminuição de custos com leasing;
  • Expectativa de melhoria significativa no fluxo de caixa, saltando de R$1,3 bilhão em 2026E para R$2,7 bilhões (considerando câmbio de R$5,85).
📌 Alavancagem mais saudável
  • Expectativa de queda da alavancagem de 5,1x para 3,0x até 2026.

E a possível fusão com a GOL?

Um dos pontos de atenção do mercado é o impacto da recuperação judicial no possível processo de fusão entre Azul e GOL, anunciado em 2023 como um acordo de intenção não vinculante.

A fusão era condicionada, em partes, à conclusão das renegociações de dívida das duas companhias. A entrada da Azul no Chapter 11 pode atrasar temporariamente as negociações, ainda que não inviabilize o movimento no médio prazo. A expectativa é que a consolidação do setor aéreo brasileiro siga em pauta, especialmente diante das dificuldades enfrentadas por ambas as empresas.


O que é o Chapter 11?

O Chapter 11 é um capítulo da Lei de Falências dos Estados Unidos que permite que empresas insolventes reorganizem suas dívidas sob proteção judicial, sem parar suas operações. Durante o processo:

  • A empresa propõe um plano de reestruturação;
  • Pode captar novos recursos com credores que aceitem condições especiais (DIP);
  • Negocia diretamente com fornecedores e bondholders;
  • Ganha tempo e proteção contra execuções e penhoras.

Ao final, com aprovação judicial e dos credores, a empresa sai do Chapter 11 com nova estrutura de capital e condições mais saudáveis para operar.


Azul continuará operando normalmente?

Sim. Durante todo o processo de Chapter 11, as operações da Azul continuarão normalmente: voos, vendas de passagens, programas de fidelidade e contratos seguem válidos.

A companhia reforçou que mantém apoio de parceiros estratégicos, clientes e colaboradores, e que o processo é um passo estratégico para a sustentabilidade de longo prazo.


A entrada da Azul no Chapter 11 é um marco importante para o setor aéreo brasileiro. Com financiamento bilionário garantido, plano de capitalização estruturado e apoio de credores, a companhia busca reestruturar seu passivo, reforçar o caixa e melhorar a eficiência operacional.

Se bem-sucedida, a Azul poderá sair fortalecida do processo já em 2026, com espaço para retomar crescimento e avançar em uma eventual consolidação com a GOL. No entanto, o mercado seguirá atento aos desdobramentos nos próximos meses, especialmente quanto à participação de investidores estratégicos internacionais e à execução do plano acordado.


📌 Este conteúdo é informativo e não representa recomendação de compra ou venda de ativos financeiros.

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