Raízen Registra Prejuízo no 1T da Safra 2025/26 com Desafios Operacionais e Maior Dívida

A empresa reportou um prejuízo de R$ 1,84 bilhão, revertendo o lucro do ano anterior. O resultado foi pressionado por fatores climáticos, queda na moagem de cana e um aumento expressivo no endividamento líquido.


Raízen Registra Prejuízo no 1T da Safra 2025/26 com Desafios Operacionais e Maior Dívida

A Raízen (B3: RAIZ4), gigante do setor de energia e combustíveis, divulgou os resultados de seu primeiro trimestre do ano-safra 2025/26 (período de abril a junho), revelando um prejuízo líquido de R$ 1,84 bilhão. O desempenho reverte o lucro de R$ 1,06 bilhão registrado no mesmo período do ano-safra anterior. A performance da companhia foi impactada por uma série de fatores, incluindo condições climáticas adversas, pressão nos custos e um aumento significativo na dívida líquida.

O EBITDA ajustado consolidado da Raízen foi de R$ 1,88 bilhão no trimestre, uma queda de 23,4% em comparação com o 1T da safra 2024/25. A receita líquida, por sua vez, recuou 6,1%, totalizando R$ 54,21 bilhões.

Desempenho por Segmento

Etanol, Açúcar e Bioenergia (EAB)

O segmento de EAB (Etanol, Açúcar e Bioenergia) registrou um EBITDA ajustado de R$ 862 milhões, o que representa uma queda de 23,7% na comparação anual. A empresa atribuiu a performance inferior a um ritmo de moagem mais lento e menor diluição de custos fixos, além de uma base de comparação mais elevada no ano anterior, que foi beneficiada por ganhos pontuais de R$ 548 milhões.

A moagem de cana-de-açúcar caiu 20,7% na comparação anual, totalizando 24,5 milhões de toneladas. A companhia explicou que as condições climáticas desfavoráveis, com chuvas mais intensas no trimestre e falta de chuvas na entressafra, impactaram negativamente o início da safra e a produtividade dos canaviais. O mix de produção, no entanto, foi mais favorável ao açúcar, alcançando 52%, ante 50% no período anterior.

Em contrapartida, a produção de etanol de segunda geração (E2G) teve um crescimento de 40,7%, chegando a 22,8 mil metros cúbicos, impulsionada pelo aumento da produção na planta Bonfim e o início das operações nas unidades Univalem e Barra.

Distribuição de Combustíveis Brasil

O segmento de Distribuição de Combustíveis no Brasil apresentou um desempenho mais resiliente, com EBITDA ajustado de R$ 1 bilhão, um aumento de 3,3% ano contra ano. A melhora foi impulsionada pela captura de melhores margens e ganhos de eficiência operacional e na gestão de suprimentos e comercialização.

No trimestre, o volume total de vendas cresceu 0,4%, para 6,73 milhões de metros cúbicos, com destaque para o avanço de 3,1% no diesel. As despesas gerais e administrativas do segmento caíram 32,7% na base anual, resultado da otimização da estrutura.

Distribuição de Combustíveis Argentina

O segmento de Distribuição de Combustíveis na Argentina foi o que apresentou a maior queda, com o EBITDA ajustado recuando 50,6% para R$ 309,7 milhões, ou 54,8% em dólares. A empresa reportou que o desempenho foi pressionado por uma parada programada de manutenção da refinaria, que foi mais longa do que o previsto, e por efeitos negativos de inventário decorrentes da volatilidade dos preços do petróleo tipo Brent. O volume de vendas, no entanto, expandiu 9,2% no comparativo anual, impulsionado pelo posicionamento em postos de varejo e B2B.

Endividamento e Gestão de Capital

Um dos pontos de maior atenção no relatório foi a alavancagem da Raízen. A dívida líquida totalizou R$ 49,21 bilhões, um aumento de 55,8% em relação ao 1T do ano-safra anterior. Consequentemente, a relação dívida líquida/EBITDA ajustado dos últimos 12 meses (LTM) subiu para 4,5x, comparado a 2,3x no mesmo período do ano-safra anterior.

A companhia explicou que o aumento da dívida se deve, principalmente, à substituição de R$ 8,9 bilhões em linhas de capital de giro de curto prazo por instrumentos de dívida de longo prazo, buscando maior eficiência e um alongamento do perfil de endividamento. Com essa estratégia, o prazo médio da dívida subiu de 6,0 para 8,2 anos. A Raízen ressaltou que encerrou o trimestre com R$ 15,7 bilhões em caixa e equivalentes, além de R$ 5,5 bilhões em linhas de crédito rotativo disponíveis.

Em busca de fortalecer a estrutura de capital e acelerar a desalavancagem, a Raízen e seus acionistas controladores estão avaliando ativamente uma potencial capitalização. A empresa não forneceu detalhes ou garantia de conclusão da operação.

Análise / Impacto

O resultado do 1T da Raízen reflete um cenário complexo, marcado pela execução de um plano estratégico de otimização em meio a fatores exógenos desfavoráveis. A forte queda na rentabilidade do segmento de EAB, um dos pilares da empresa, é um ponto de atenção. As condições climáticas, que impactaram a produtividade e a moagem, são desafios conjunturais, mas a pressão sobre os custos fixos evidencia a necessidade de a companhia avançar em seu plano de eficiências.

A performance mais sólida do segmento de Distribuição de Combustíveis no Brasil demonstra a capacidade da empresa de gerar valor mesmo em um ambiente de preços voláteis, com a gestão de margens e a busca por eficiências administrativas se mostrando eficazes. Já o desempenho na Argentina serve como um alerta sobre a sensibilidade da operação a eventos específicos, como a manutenção da refinaria, e à dinâmica de preços do mercado internacional de commodities.

O aumento da alavancagem é o principal destaque negativo, com o indicador Dívida Líquida/EBITDA ajustado subindo para 4,5x. Embora a empresa justifique a mudança pela estratégia de alongamento da dívida, essa métrica se distancia de patamares considerados confortáveis pelo mercado. A menção a uma potencial capitalização, embora sem detalhes, demonstra a preocupação da gestão com o nível de endividamento e a busca por reforçar sua estrutura financeira. O mercado deve acompanhar de perto as próximas etapas desse plano e a evolução dos indicadores nos próximos trimestres para avaliar se os ganhos de eficiência prometidos se materializam e revertem o quadro de menor rentabilidade e maior alavancagem.

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